quarta-feira, 22 de julho de 2009

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NA SUPERAÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR

Podem ser muitas as razões que determinam o sucesso ou o fracasso escolar de um aprendiz, como: fatores fisiológicos, fatores psicológicos, mais precisamente de mobilização, condições pedagógicas e principalmente o meio sócio-cultural em que vive o ser humano.


Psicopedagogia Clínica

Diagnostica, orienta, atende em tratamento e investiga os problemas emergentes nos processos de aprendizagem. Esclarece os obstáculos que interferem para haver uma boa aprendizagem. Favorece o desenvolvimento de atitudes e processos de aprendizagem adequados. Realiza o diagnóstico-psicopedagógico, com especial ênfase nas possibilidades e perturbações da aprendizagem; esclarecimento e orientação daqueles que o consultam; a orientação de pais e professores, a orientação vocacional operativa em todos os níveis educativos. A psicopedagogia no campo clínico emprega como recurso principal a realização de entrevistas operativas dedicadas à expressão e a progressiva resolução da problemática individual e/ou grupal daqueles que a consultam.


Psicopedagogia Institucional

A Psicopedagogia vem atuando com muito sucesso nas diversas Instituições, sejam escolas, hospitais e empresas. Seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e ajuda o desenvolvimento dos projetos favoráveis a mudanças, também psicoprofilaticamente. A aprendizagem deve ser olhada como a atividade de indivíduos ou grupos humanos, que mediante a incorporação de informações e o desenvolvimento de experiências, promovem modificações estáveis na personalidade e na dinâmica grupal as quais revertem no manejo instrumental da realidade. A aprendizagem não só objetiva a criança ou adolescente, mas o adulto e profissionais na integração e reintegração grupal.



Atividades Desenvolvidas na Clínica


Supervisão on-line

Na supervisão on-line o primeiro encontro deverá obrigatoriamente ser presencial e os próximos poderão ser on-line. Demais encontros presenciais serão marcados de acordo com a necessidade.


Psicopedagogia

O tratamento consiste na realização de um diagnóstico que tem a duração de aproximadamente oito encontros (ou sessões), onde serão avaliados os aspectos cognitivos, afetivos, psiconeurologicos, pedagógicos e outros. A intervenção, cuja duração e a modalidade de atendimento ficam definidas a partir do diagnóstico, consiste no tratamento propriamente dito.


Psicologia Clínica

A psicologia clínica é a modalidade de tratamento indicada nos casos de transtornos de comportamento e de humor e seguem uma orientação psicodinâmica, ou seja, o tratamento parte das queixas atuais e seguem em busca das causas primárias. Também dentro da área da psicologia clínica estão inseridos os serviços de elaboração de laudos para fins de afastamento de trabalho, questões judiciais e fins escolares.


Psiquiatria

A psiquiatria é recomendada quando a problemática psíquica envolve questões orgânicas, ou seja aspectos psico químicos do funcionamento cerebral, e portanto requerem a prescrição medicamentosa paralelamente ao processo psicoterápicos.


Psicanálise

É a modalidade de tratamento indicada nos casos em que a problemática psíquica está relacionada a fatores estruturais da formação da personalidade e, portanto requer um revisitar a vida infantil. Embora o tempo de tratamento seja mais prolongado do que nas demais formas de psicoterapia sua intervenção resulta em elaboração dos conflitos neuróticos originados na infância. Indicar.


Psicomotrocidade

A psicomotricidade é a modalidade de atendimento indicada nos casos em que haja problemas relacionados ao desempenho motor, como por exemplo, problemas relacionados à execução gráfica da escrita, realização de esportes e outras atividades que requeiram uma boa coordenação entre mente e corpo.


Pedagogia

Essa modalidade é indicada exclusivamente nos casos em que haja defasagens pedagógicas, ou seja, déficits nas aprendizagens escolares.


Psicologia e Psicopedagoga Organizacional

São as intervenções no campo das empresas e instituições em geral e objetivam a saúde das relações e a otimização dos serviços dentro da organização. Recrutamento e seleção para o primeiro emprego consultoria empresarial.


Consultoria para Escolas

A consultoria para escolas consiste na elaboração de projetos pedagógicos, capacitação de professores, implantação de novas metodologias, elaboração de novos currículos, criação de recursos materiais, prevenção e tratamento dos casos de problemas de aprendizagem, criação de salas de Apoio Pedagógico à educação de Jovens e Adultos e Alfabetização de Adultos, processos de autorização junto aos órgãos competentes, elaboração de projetos de marketing institucional estratégico.

Como orientar o adolescente sobre o uso da internet e estudos, sobre o namoro e as amizades.

A SUPERAÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR CONVITE AOS PAIS, PROFESSORES, COORDENADORES E RESPONSÁVEIS


OBJETIVOS


􀀹 Orientar os pais sobre o uso da internet e estudos, sobre o namoro e as amizades dos adolescentes.

􀀹 Compreender as dificuldades de aprendizagem e como superar o fracasso escolar.

􀀹 Desenvolver projetos centrados nos talentos e na criatividade das pessoas, e explorar as suas competências e habilidades para superar as dificuldade encontradas.

􀀹 Esclarecer Professores, Coordenadores, Aprendizes, Pais e/ou Responsáveis.


TEMAS ADORDADOS


􀀹 Orientações e entendimento sobre o uso da internet, dos estudos, do namoro e das amizades.

􀀹 Desenvolvimento de habilidades “atencionais” em estudantes do ensino fundamental, médio e superior, em relação com rendimento escolar. Como transformar erros em acertos. Estratégias de intervenção para aperfeiçoar o conhecimento.

􀀹 Aquisição e desenvolvimento da linguagem: dificuldades que podem surgir neste percurso. Por que nossos alunos não compreendem o que lêem.

􀀹 Dislexia: Diagnóstico e intervenção sob o olhar da psicopedagogia, fonoaudiologia e neurologia.

􀀹 Orientações sobre o Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade, o TDAH na ótica da Neurologia e da Psiquiatria.

􀀹 Transtorno de ansiedade.



CONSIDERAÇÕES SOBRE A ALFABETIZAÇÃO: DA EDUCAÇÃO BÁSICA AO ENSINO SUPERIOR

Atualmente, nossa sociedade assiste à discussão sobre a democratização do ensino nos seus vários níveis enfatizando, sobretudo, condições e alternativas para o acesso à educação. Um dos conteúdos cuja responsabilidade de sistematização cabe à escola é a escrita e a leitura; bens culturais que devem ser acessados por todos os cidadãos. Quando tal acesso não ocorre, é certo que estamos todos longe de uma situação social justa e igualitária. Essa afirmação, a nosso ver, é válida não somente para aquele que nunca foi à escola, mas para os que lá estão/estiveram e não utilizam-se desses bens (ou porque não sabem ou porque não conseguem) para seu desenvolvimento pessoal e profissional. Quando se pensa em democratização do ensino, não se pode esquecer que além da garantia do acesso, é necessário garantir a qualidade da permanência. Nesse sentido, práticas educativas alienantes, repetitivas e mecanizadas podem também excluir aquele que consegue chegar à escola. Tentando realizar uma reflexão sobre a relação entre ensino superior e alfabetização, recorremos a fatos corriqueiros para os professores universitários: quantos orientadores (de monografias, trabalhos de conclusão de curso, dissertações etc.) não sofrem ao tomarem pela mão alunos que,mesmo chegando ao topo da carreira acadêmica, não sabem ainda interpretar um texto, trabalhar a intertextualidade e a informatividade e redigir com coesão e coerência? Quantos professores do ensino superior não se assustam com os erros gramaticais de alunos recém saídos do ensino médio? O que tem acontecido em nossas escolas para chegarmos numa situação dessas? Onde começam, onde se fixam as raízes de tal caos? Em tempos de debates sobre a educação superior, estes fatos nos levam a enfatizar que a reforma universitária não pode prescindir de uma reforma na educação básica. Utilizemos as palavras de Zorzi (2003) para nossa reflexão:

O número de alunos em escolas privadas e, principalmente em escolas públicas com "dificuldades" de aprendizagem da escrita tem sido tão grande que nos leva a um questionamento fundamental: seriam todas essas crianças portadoras de distúrbios de aprendizagem, configurando uma espécie de epidemia, ou estaria a maioria delas sofrendo as conseqüências de métodos e propostas que não estão dando conta de atingir seus objetivos? Ou, até mesmo, não estariam os problemas na definição dos objetivos? Em outras palavras, estamos frente a deficiências do aprendiz ou a deficiências do ensino? (ZORZI, 2003, p.v, apresentação).

Seria, talvez, tentador criticar o trabalho da professora, lá no início do ensino fundamental, que só se utilizou da cartilha para nos alfabetizar, que nos colocou medo quando devolvia nossas redações “antipedagogicamente” rabiscadas em vermelho, que muitas vezes colocava na cabeça do aluno a idéia de que ele “não sabia português”. Quanto não sofremos para superar o “medo do papel em branco” na hora de realizar nossas composições no ensino fundamental? Também, não é difícil encontrarmos um rol de justificativas para o mau desempenho do aluno, tais como: sua família "desestruturada" que não oferece condições e incentivo ao estudo, que não valoriza nem coopera com a escola; suas possibilidades cognitivas limitadas, muitas vezes vinculadas a distúrbios ou problemas de aprendizagem; suas condições sociais desfavoráveis, entre outras razões que os mestres acabam apresentando. Essas são questões a se considerar, pois obviamente, o despreparo do professor não é o único fator responsável pelo insucesso do aluno, apesar de ser um fator crucial. Sabemos que muitos professores têm concepções equivocadas em relação à aquisição da escrita e à língua portuguesa, adquiridas até mesmo em sua própria trajetória como alunos e decorrente de crenças que ficaram arraigadas em nosso sistema educativo por décadas (séculos, talvez). Porém, como é de conhecimento geral, não podemos nos desligar do contexto social mais amplo no qual nossos alunos e professores se acham inseridos: alunos com fome não aprendem; alunos que não vêem perspectivas de que a educação possa lhes trazer melhoria de vida, não aprendem; alunos acostumados ao ritmo de jogos eletrônicos não se concentram na aula... Disso concluímos que se o estudo, se o aprender não fizer “sentido” para o aluno, ele certamente encontrará outras prioridades (trabalhar para o sustento da família, divertir-se com os amigos...), se a educação não tiver um “significado” concreto para o aluno, haverá sempre algo mais necessário ou mais divertido a se fazer. Resolver o problema do analfabetismo – da educação, portanto – , não é apenas resolver um problema pedagógico: formar melhor o professor e aprimorar as técnicas de ensino para que o aluno aprenda mais e melhor. Nem é somente um problema a ser sanado com medidas “sociais”, muitas delas paliativas que contornam, precária e muito superficialmente, os problemas econômicos das classes menos favorecidas. Menos ainda é questão de “modernizar o ensino”, transformando a sala de aula em um “parque de diversões”, de preferência com geringonças eletrônicas, para que o aluno aprenda sem fazer esforço e sinta prazer em cada atividade que realiza, afinal de contas, aprender é também compreender as frustrações da relação entre sujeito e objeto de conhecimento e poder superá-las a partir das próprias perspectivas, com os próprios instrumentos e estratégias. Melhorar a educação, num país com as características do Brasil, requer um pouco de cada uma dessas coisas, num trabalho conjunto, que envolva aspectos pedagógicos, sociais, tecnológicos – e mesmo emocionais – de nossos alunos e professores. Requer, ainda, o envolvimento de diversos grupos da sociedade para que possa ser realizado. Não adianta generalizar as causas da evasão e do analfabetismo, dizendo que a culpa foi da professora que não soube “cativar” seu aluno, do pai que não deu a devida importância ao estudo do filho, dos alunos que estão cada dia piores ou do governo que não se interessa pela educação e o bemestar de seu povo. Também não adianta imaginarmos que as ONGs, as escolas comunitárias, as empresas, isoladamente, terão o poder mágico de resolver o déficit educacional do Brasil. Temos que trabalhar juntos, de modo cooperativo, solidário e não solitário. Nesse percurso de busca de soluções, soluções urgentes e que atendam a um contingente enorme de excluídos, são feitas propostas que, no caminho de sua elaboração e execução, podem dar passos certos e também, errados.Cabe aí, também – e entre outros -, o olhar crítico da Universidade, da academia: não só o mercado de trabalho pode/deve impor seus critérios para forjar melhorias na educação básica. Cabe à Universidade, também, num olhar prospectivo, lutar pelas melhorias na base objetivando a democratização do acesso, com manutenção da qualidade, a todas as etapas da educação. Quantos somos nós, professores, pós-graduandos, formadores de formadores, em relação ao número de pessoas que foram bem sucedidas no processo de alfabetização, porém não seguiram seus estudos? E em relação ao número de excluídos num país com as características sócio-econômicas do Brasil? Que ensino é esse que desde cedo segrega e determina que poucos vão atingir as etapas posteriores? Sobre isso, vale ressaltar que todos os méritos e alcances de um projeto como o Alfasol podem ser desperdiçados se não for garantida ao aluno a continuidade de sua formação. Assim, tendo em vista este contexto, propomos alguns aspectos para observarmos, discutirmos, refletirmos sobre os resultados e limites de programas da natureza do Alfabetização Solidária.



1) Sobre o aspecto pedagógico, é necessário, entre outros fatores, que os programas voltados à “alfabetização” do aluno preocupem-se não apenas com a aquisição da habilidade técnica de “decodificar letras”. Ler/escrever é muito mais que isso. É necessário o trabalho significativo com textos que façam sentido na realidade do aluno. Se isso é válido e salientado na educação de crianças, na educação de jovens e adultos devem ser tomados com muito mais força! Tal aspecto imediatamente nos traz à lembrança nosso grande Paulo Freire. A perspectiva de compreender a aquisição da linguagem escrita a partir, portanto, da concepção de letramento* faz-se imprescindível.
* ( Por letramento entende-se a idéia de que alfabetizar não é apenas ensinar os códigos da escrita, relacionando os sons às letras, mas fazer com que o aluno compreenda o significado prático da escrita. Assim, o letramento pode ser compreendido como a condição que adquire um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais, permitindo-lhe participar aprendizagem do aluno a seu contexto, tornar a aquisição útil no dia-a-dia do aprendiz, rever (ter) a maneira como são concebidos os preconceitos linguísticos. Esse tipo de ação que nos discursos acadêmicos não é novo, ainda é novo na maioria das práticas escolares. Tal ação deveria iniciar-se lá na pré-escola quando o professor, por exemplo, ao invés de fazer seus alunos repetirem exercícios mimeografados de contorno de letras, solicita a elaboração de um texto livre a partir de um passeio ou atividade feita na escola, ou pede aos alunos que façam uma carta para seus colegas de outra sala ou de outra escola. O aluno precisa desde cedo compreender a função social da escrita. Aqui cabe a formação, a atualização, a preparação do professor, para que ele entenda por quê – e como – educar numa nova perspectiva. Para a alfabetização de adultos essas considerações tornamse ainda mais relevantes: ou a escrita mostra-se útil e significativa para ele ou é melhor continuar sem ela, pois para que tanto esforço?).



2) Ainda relacionado ao aspecto pedagógico, é necessário que tenhamos claro o que entendemos por ser alfabetizado. Durante muito tempo essa concepção esteve presa à idéia de “conhecer as letras” ou de “saber assinar o nome”; hoje, aproxima-se muito mais da idéia de ler/redigir um texto simples (um bilhete ou uma receita de bolo, por exemplo). Lembremonos do conceito de analfabetismo funcional. Não podemos, neste aspecto, deixar de nos questionarmos sobre quando termina o processo de alfabetização – ou de letramento: quando o aluno aprende a soletrar (conhecer as letras); quando aprende a montar palavras; quando começa a ler/redigir pequenas frases; quando já consegue sozinho ler placas, tomar seu ônibus, entender a conta de luz e o extrato do banco ou quando consegue interpretar um poema, compreender um contrato, entender o editorial de um jornal e elaborar um texto argumentativo (por exemplo uma carta à prefeitura pedindo providências sobre um aterro)? A esse respeito, vale destacar também que numa mesma sala, num mesmo grupo de alunos, há singularidades e diferenças entre eles: precisamos permitir a aprendizagem conforme as possibilidades de cada um e não querer que significativamente de uma cultura letrada, possibilitando novas formas de inserção cultural (Matêncio, 1994; Leite, 2001). Todos aprendam ao mesmo tempo e da mesma forma, isso chega a ser um paradoxo numa sociedade tão diversa como a nossa.



3) No sentido dos dois itens anteriores, vale a pena refletir sobre a idéia de educação como formadora de indivíduos autônomos intelectual e moralmente. Ora, isso não ocorre quando fomentamos a passividade intelectual. Notamos também que o aluno que consegue galgar degraus mais avançados em sua escolarização, é muitas vezes oriundo de um modelo de ensino tradicional e alienante, tem por base conceitos equivocados de leitura e interpretação de textos, assim como a própria noção do que é estudar e elaborar pesquisas (LUCKESI et al., 1996). Ler, para muitos, não passa da decodificação dos símbolos grafados, enquanto interpretar um texto é repetir com as próprias palavras aquilo que o escritor tentou passar, quando não apenas responder aos questionários que se seguem à leitura. Pesquisar concentra-se em copiar trechos de outras obras, quando muito reunindo dados de diferentes fontes, nem sempre devidamente especificadas. O estudante universitário sente, ainda, grande dificuldade na superação do modelo de memorização rumo a uma leitura ativa e reflexiva, o que, em contrapartida, gera dificuldades no momento de expressar seus conhecimentos, suas reflexões. Isso sem mencionar casos de dificuldade na compreensão de vocabulário ou mesmo de orações “complexas”. Todos estes aspectos nos remetem a idéia apresentada no início desse texto, a qualidade da permanência e a real possibilidade de acesso e uso do conhecimento são as grandes chaves para a democratização do ensino e da sociedade.



4) Na contracorrente do preconceito lingüístico, é importante não só “respeitar” a variante lingüística de nosso aluno. Temos ainda que deixar de compreender o analfabetismo como “doença”, um mal a ser combatido – como muitas vezes nos é inculcado – e consequentemente, olhar para o analfabeto como alguém que precisa ser salvo. Muito temos ouvido dizer que o alto índice de desemprego se deve à baixa “empregabilidade” dos indivíduos. Muitos propõem que a educação poderá ser a redentora de todos os males da sociedade, como se, ao terem maior escolaridade (muitas vezes, sem formação, sem educação que a acompanhe), as pessoas estariam imunes, por exemplo, ao desemprego. Temos que considerar os benefícios que a aquisição da escrita pode trazer aos indivíduos, e compreender que a exclusão pela via da linguagem pode ocorrer até para os que já dominam a leitura e a escrita.



5) A oportunidade de aprender a ler e escrever, inquestionavelmente, causa um impacto na auto-estima do estudante. A sensação de autonomia e de não ser mais “marginalizado” numa sociedade letrada como a nossa (em que conhecer apenas um idioma já está sendo considerado “analfabetismo”), parece ser um dos “produtos”, se assim o podemos chamar, mais significativos dos programas de alfabetização2. Coisas que para nós podem ser simples e corriqueiras, como entender o modo de usar de algum aparelho ou mesmo copiar aquelas pequenas receitas que vêm nas embalagens de diversos produtos, ler a manchete do jornal em letras bem grandes, escolher um cartão de Natal, ir ao cinema e entender o último filme da moda (com legenda em português), trazem grande sensação de bem-estar, de realização, podemos mesmo dizer de felicidade. É a perspectiva afetiva da educação.



6) No aspecto social, as vantagens são também bastante importantes. Talvez, as mais salientadas em todas as propagandas, em todos os resultados de avaliação de programas dessa natureza concentram-se, em especial, numa palavra que muitos utilizam, porém que poucos compreendem com clareza: cidadania. E nesse ponto, a perspectiva de alfabetizar letrando é fundamental: ao aprender a interpretar, a criticar, a se posicionar, o indivíduo tem abertas possibilidades de compreender melhor a sociedade em que vive e nela intervir.



7) Até aqui abordamos apenas um lado do processo: os “alunos”. E quanto aos seus professores? O que podem aprender, partilhar, crescer nessa oportunidade de troca? O mesmo se pode dizer sobre coordenadores e demais envolvidos nos projetos. Num processo educativo de verdade, trocam-se saberes, experiências: o aluno desvenda com o professor os mistérios da escrita e o professor desvenda com o aluno sua cultura, seus saberes, seu modo de compreender o mundo... Com o aluno o professor como exemplo, podemos citar um trecho do poema escrito por um alfabetizando do programa “Alfabetização Solidária”, transcrito por Silveira (2000) em sua dissertação de mestrado: (...) já seiescrever o meu nome.../ sou livre e independente, / já mudou a minha estória / pois é a melhor escola / muitas vezes reflete sobre sua própria língua: Por que em português dizemos MUITO OBRIGADO/A e nunca OBRIGADOS/AS? Por que existe mesóclise? Por que todas as proparoxítonas são acentuadas? Dizer “obrigada eu está certo”? É verdade que saber de cor é saber de coração?

Se parte da população entende o termo entuchicado diferentemente de intoxicado, uma nova palavra não teria sido criada... Se podemos deletar e compramos no shopping center, se incorporamos palavras como abajur, sutiã, software e mesmo futebol, por que não incorporar uma palavra de uso popular?... Para tanto, os profissionais que atuam em programas de alfabetização e em EJA, e com o ensino do idioma de modo geral, precisam estar abertos e preparados.



8) Retornando ao ensino superior: quem forma os formadores? Voltamos aqui à Universidade, espaço de reflexão, de pesquisa, de busca de novos conhecimentos e novos meios. A Universidade não pode ficar distanciada da sociedade, muitas vezes é a própria sociedade que a financia. A Universidade não pode, também, ficar distante dos outros níveis educacionais: embora métodos e objetivos possam ser diferenciados, a educação básica alimenta a Universidade, e esta volta a alimentar a educação, formando seus professores, diretores, secretários, ministros... Em momento algum podem se distanciar. E não é necessário forçar a aproximação: ela existe por princípio.



9) No início da presente discussão, mencionamos a urgência de que programas da natureza do Alfasol sejam realizados. Porém, como fomos observando até aqui, percebemos que, por um lado há necessidade de trabalho conjunto, que integre os diversos degraus educacionais e diversas esferas da sociedade. Na urgência de dar respostas, o projeto Brasil Alfabetizado, a Teia do Saber (desenvolvida no estado de São Paulo), o Praler, as iniciativas individuais de empresas e ONGs, ou mesmo entidades religiosas, são de extrema importância: o trabalho de beija-flor apagando o incêndio é necessário e bem-vindo. Porém, tais iniciativas, em geral, realizam-se por curto período de tempo, são localizadas, podem ser realizadas de modo equivocado e correm o risco de sofrer cortes advindos que já surgiu na minha frente / uma escola confortável, / de grandes realidades, / de amor e de emoção (...). do vai-e-vem da troca de governos na administração pública. É necessário, portanto, que programas dessa natureza sejam tomados de modo sistemático e que não padeçam do mal da descontinuidade. Se não deu certo da primeira vez, vamos corrigir os pontos problemáticos, em vez de jogar tudo fora e começar de novo. O Alfasol, e outros programas semelhantes, são - e revelam - apenas a ponta do ICEBERG, mas que sem uma base muito ampla e bem estruturada, correria o risco de afundar e se diluir no mar, sem deixar vestígios. Salientamos que o Alfasol bravamente vem resistindo e mostrando que o caminho é mesmo o da continuidade, permanência e aprimoramento.



10) A avaliação constante desses programas é fundamental, seja pelos resultados mostrados pelos alunos, seja pelos professores que avaliam sua prática, seja pela sociedade na qual se inserem. Neste aspecto, talvez a “academia”/Universidade possa oferecer preciosas contribuições para o aprimoramento da prática e da teoria de uma temática tão relevante dentro da educação brasileira, ao provocar, por exemplos, discussões sobre a perspectiva hoje muito difundida de “professor reflexivo”; uma compreensão acurada de como se realiza e se analisa um processo de avaliação (institucional ou não); o estudo de como se dá o processo de aprendizagem do aluno adulto, bem como os princípios da pesquisa-ação ou participante. Ao apresentarmos essas breves reflexões buscamos trazer à tona questões que tornem viáveis as ações. Há programas, há idéias, há pesquisas, há autores, há professores, há escolas e há alunos, muitos. O que falta então? Como já discorremos, falta cooperação, integração, articulação, continuidade e permanência. Não podemos deixar de fazer um parêntese para lembrar daqueles que, uma vez mais, ficam pelo caminho: como se sentem enquanto alunos, cidadãos e pessoas? O que aconteceu a eles? O que acontecerá? A sociedade da diversidade começa na escola e a difusão e acessibilidade do conhecimento também: ou os bancos escolares caminham para a inclusão de TODOS ou desde cedo perpetuam a segregação. Isso para a alfabetização de crianças a adultos, de adultos a crianças.


REFERÊNCIAS

*LEITE, S.A.S. (org). Alfabetização e letramento: Contribuições para as práticas pedagógicas. Campinas: Komedi – arte escrita, 2001.
*LUCKESI, C. et al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 1996.
*MATÊNCIO, M. L. Leitura e produção de textos na escola, reflexões sobre o processo de letramento. Campinas, Mercado de Letras, 1994.
*SILVEIRA, Joveliana Amado da. A Alfabetização Solidária e o papel do Centro Universitário do Triângulo – UNITRI e da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. 2000. 158 p. Dissertação (Mestrado em Educação), UNITRI, Uberlândia.
*ZORZI, J. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita - questões clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artmed, 2003.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Letramento na Alfabetização de Jovens e Adultos

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ALFABETIZAÇÃO: DA EDUCAÇÃO BÁSICA AO ENSINO SUPERIOR


INTRODUÇÃO

Atualmente, nossa sociedade assiste à discussão sobre condições e alternativas para o acesso à educação nos seus vários níveis. Porém, não basta democratizarmos o acesso à escola. É necessário que os estudantes tenham também acesso aos conhecimentos cuja sistematização está a cargo da escola. Para tanto, além da qualidade do acesso, é necessário levar-se em conta a qualidade da permanência. Partindo deste ponto de vista, nosso trabalho busca explicitar as relações entre alfabetização e educação superior, enfatizando, em tempos de debates sobre a reforma universitária, que a melhoria de um nível educacional (básico ou superior) não pode prescindir da melhoria do outro, uma vez que a educação básica prepara os alunos que ingressam na educação superior e esta forma, entre outros, os profissionais da educação, num constante processo de retroalimentação. Tendo em vista este contexto, buscamos enfatizar a relevância da criação e manutenção de programas da natureza do Alfasol, pela possibilidade de iniciar a democratização tão sonhada em nosso país.


METODOLOGIA

Para esta reflexão, partimos de fatos corriqueiros para professores universitários no que diz respeito às dificuldades dos alunos em relação ao uso da modalidade escrita da língua, e, à luz dos trabalhos de lingüistas, educadores e estudiosos da alfabetização, procuramos levantar questionamentos e propor tópicos de discussão que nos permitam um aprofundamento, ainda bastante modesto, da temática em foco. Entre estes tópicos, destacamos: o aspecto pedagógico e a discussão a respeito do significado da alfabetização e da escrita para o aluno; a perspectiva de formar letrando e de superação da passividade do aluno em relação à escrita; questões relativas ao preconceito lingüístico; o aspecto social, a auto-estima e o exercício da cidadania por aqueles que dominam a leitura e a escrita; o possível papel da Universidade na busca de respostas a diversos questionamentos, na fundamentação das ações educativas e na avaliação e reflexão constante desses programas; e, finalmente, a viabilidade e importância da criação e manutenção de programas como o Alfasol que, indubitavelmente, contribuem para a consolidação do sonho democrático em nosso país.


RESULTADOS

Nosso esforço de síntese aponta para a compreensão de que a solução do problema do analfabetismo não está relacionada somente a fatores pedagógicos, não está limitada à melhor formação dos professores, nem ao aprimoramento das técnicas de ensino ou à "modernização" do trabalho em sala de aula. Também não se limita a solucionar problemas de ordem sócio-econômica, muitas vezes por meio de medidas paliativas. A nosso ver, melhorar a educação requer um pouco de cada uma dessas coisas, num trabalho conjunto, que envolva aspectos pedagógicos, sociais, tecnológicos e emocionais de alunos e professores. Requer, ainda, o envolvimento de diversos grupos da sociedade para que possa ser realizado, devendo ser um trabalho solidário e não solitário.


CONCLUSÕES

Em uma sociedade marcada pelo sonho de democratização e por condições sociais tão desiguais, como o Brasil, a criação e manutenção de programas como o Alfasol são imprescindíveis, pois podem ser o primeiro passo para a concretização desses ideais. No entanto, tais ações não podem acontecer isoladamente: diferentes setores da sociedade devem se unir nesta luta e os diferentes níveis educacionais devem interagir. O intercâmbio entre a formação básica e a educação superior pode propiciar o enriquecimento de ambas, contribuindo para o aprimoramento das práticas e fornecendo subsídios para discussões mais engajadas nos problemas efetivos de nossa sociedade. Por fim, vale destacar que a origem de uma sociedade da diversidade e a possibilidade de acesso democrático ao conhecimento principiam na escola, por meio de ações efetivas para o letramento, sejam elas voltadas a crianças, jovens ou adultos, todos cidadãos de uma mesma nação.


* Profa. Dra. Graziela Giusti Pachane – UNITRI – MG – grazielagp@yahoo.com.br
* Profa. Dra. Eliane Giachetto Saravali – UNITRI – MG – egsara@uol.com.br
* Profa. Msc. Valéria Rodrigues Dias Gomes – UNITRI – MG –
valerdg@netsite.com.br

Educação e cidadania: reflexões sobre ética e alfabetização

A educação é temática essencial no mundo moderno. Não seria possível falar em cidadania sem discutirmos a conscientização da população. Neste sentido, a teoria de Paulo Freire representou avanços significativos nos saberes pedagógicos, sobretudo quando pensamos no processo de alfabetização, que ainda é um dos graves problemas dos países em desenvolvimento, onde o baixo nível de crescimento econômico acaba interferindo na formação de crianças e adultos, na medida em que, na maioria dos casos, troca-se o estudo pelo trabalho. O Estado, nestes países, assumiria um papel fundamental no resgate da cidadania, principalmente na defesa de projetos de educação tanto para jovens como para adultos.No caso brasileiro, nos anos 70, houve o Mobral, especificamente para a alfabetização de adultos. Apesar do contexto histórico – tratava-se de uma ditadura militar -, não podemos deixar de reconhecer que apreocupação era legítima , levando em consideração a grande quantidade de analfabetos no país. Na década de 90, foi implantado o Programa de Alfabetização Solidária (PAS), que procurava estabelecer parcerias com várias universidades brasileiras, no sentido de formar alfabetizadores nas regiões mais carentes do Brasil. No atual governo, foi apresentado o programa Brasil Alfabetizado, que tenta dar continuidade ao processo de recuperação da cidadania de muitos brasileiros. Afinal, não seria possível pensar a criação de um cidadão moderno e consciente num mundo globalizado, sem estar alfabetizado e informado.Este livro trata basicamente destas temáticas. Vários professores e pesquisadores contribuíram com suas idéias e reflexões, tanto analisando o processo educacional de uma perspectiva mais geral, quando discutindo a ética e a cidadania, além da própria alfabetização em particular. No capítulo “A motivação no Programa Alfabetização Solidária: o elo de ligação entre o saber elaborado e o saber popular”, envolve a combinação da motivação e da criatividade e traduz, na última frase deste artigo, escrito pelos professores e organizadores desta obra, Valéria Rodrigues Dias e Selmane Felipe de Oliveira e, também, pela pedagoga Sandra Lúcia Silva, a principal via de construção da cidadania: “Talvez seja essa a verdadeira missão da educação: criar sujeitos autônomos, críticos, livres e compromissados com o exercício da ética e da cidadania, no sentido de construir uma sociedade mais solidária e feliz.”
Os mesmos autores (com exceção da pedagoga Sandra Lúcia Silva) mais a estudante de Psicologia do Centro Universitário do Triângulo - UNITRI, Lia Paula Rodrigues Gomes, no capítulo “Educação e cultura popular: lendas e tradições no processo de alfabetização” – trazem a experiência da interação da aprendizagem entre professores e alunos, na perspectiva de Paulo Freire, por meio do envolvimento com o Programa Alfabetização Solidária em que, nas palavras dos autores, “... este projeto respeita e valoriza as culturas locais e tenta, a partir da vivência dos moradores, construir não apenas um projeto de alfabetização, mas sim de cidadania.”

* Valéria Rodrigues Dias Gomes (org.)
* Selmane Felipe de Oliveira (org.)
Taubaté : Cabral